A Suíça esta se preparando para o pior

Até agora, os hospitais têm leitos e equipamentos suficientes – também no cantão de Ticino, o estado mais afetado pela pandemia. No entanto, na parte do sul do país, o trabalho está se tornando cada vez mais stressante para as equipes médicas.

Para acomodar a onda de pacientes com o Covid–19, os cantões dobraram a capacidade de atendimento na semana passada – em alguns lugares até triplicaram. Ticino vive um momento de medo. “A situação ainda não é dramática”, diz Mattia Lepori, vice-diretora dos hospitais públicos estaduais. “Mas ainda estamos preocupados.”

Segundo Lepori, o número de leitos em unidades de terapia intensiva aumentou de 30 no início da crise para 50. Essas vagas agora são destinados apenas para pacientes com o vírus corona. Na sexta-feira (20), no entanto, apenas 65% dessas camas estavam ocupadas. Cerca de 35% dos 462 leitos para casos normais foram usados até agora.

“Continuaremos a aumentar nossa capacidade na próxima semana”, diz Lepori. Os locais de terapia intensiva, as UTIs, dobrarão para 100 a partir de segunda-feira (23). Todos os pacientes com Covid-19 estão concentrados nos hospitais Moncucco, em Lugano, e La Carità, em Locarno. Os outros hospitais públicos e privados do cantão acolhem os pacientes restantes.

Importante é o trabalho em equipe

Entre os agentes de saúde suíços, ninguém esta de fato preocupado com a falta de leitos. Em Genebra, eles passaram de 48 para 80 camas de emergência, que serão 100 até o meio da semana. “Acolhemos 92 pessoas, das quais 19 foram transferidas para UTIs”, explica um membro da equipe de enfermagem.

Em Neuchâtel, cantão vizinho da capital Berna, eles querem aumentar o número de camas para 40. O Hospital Cantonal de Friburgo está planejando expandir os leitos de UTI de 18 para 50. O Hospital Universitário de Basileia e também o Inselspital em Berna, asseguram que a capacidade possa ser duplicada rapidamente, se necessário.

No entanto, muitos estão preocupados com o número de pessoal. “A unidade de terapia intensiva geralmente requer respiradores artificiais complexos que só podem ser operados por pessoal especializado”, diz Nicolas Drechsler, do Hospital Universitário de Basileia. O número de camas e respiradores artificiais pode ser duplicada rapidamente. O problema, no entanto, é encontrar pessoal que também possa operar esses dispositivos. “Esse é o fator preocupante para nós”, diz Drechsler.

Stephan Jakob, diretor e médico-chefe da clínica universitária de medicina intensiva do Inselspital, referencia na capital, compartilha da mesma opinião. “O grande problema ocorre quando todos os ventiladores estão em operação e não dispomos da equipe necessária”. Drechsler, do Hospital Universitário de Basileia, é categórico na sua afirmação: “Se 200 pacientes de terapia intensiva chegarem simultaneamente, teremos problemas para colocar essas máquinas em funcionamento rapidamente e operá-las corretamente. Respiradores artificiais são aparelhos médicos que realizam uma ventilação mecânica em pacientes com dificuldades respiratórias graves.

Mattia Lepori, diretor-geral dos hospitais do cantão Ticino, também explica por que a equipe pode se tornar um ponto de risco no tratamento de doentes. «As mortes estão aumentando. O trabalho é emocional e exige muito fisicamente dos funcionários», explica. O problema é a imprevisibilidade do Covid-19. Um paciente anteriormente estável pode desenvolver sintomas graves num período muito curto de tempo.

E o que acontece se por exemplo, a equipe do Ticino não conseguir acompanhar o aumento dos casos? Franco Denti, presidente da Associação Médica de Ticino, acredita que a solidariedade nacional será decisiva. Os pacientes teriam que ser transferidos para outros cantões. «Os nossos hospitais terão de ser aliviados. O cantão não sobreviverá sem essa ajuda », diz o cirurgião de Lugano.

Essa preocupação baseia-se na situação que a vizinha Itália vive no momento. A Suíça tem 782 quilómetros de fronteira com o país que notificou 800 óbitos por causa do Covid-19 em um único dia essa semana. Até o momento dessa publicação, o governo do senhor Sergio Mattarella contabilizava 5 476 mortes por conta da pandemia.

Compartilhe!