Em um sábado cinzento, às margens do rio Limmat, a organização suíça de eutanásia Exit reuniu-se para uma conferência em Zurique. O tema: o futuro da eutanásia em um país onde a prática já é legal, mas ainda cercada de intensos debates éticos e sociais. No Hotel Marriott, cerca de 200 participantes, incluindo médicos, filósofos, políticos e especialistas em bioética, se debruçaram sobre o que o país poderá enfrentar nas próximas décadas.
O evento acontece em um momento crítico. Estima-se que até 2035 o número de cidadãos suíços que buscam financiamento para serviços de eutanásia poderá mais do que dobrar. Esse possível aumento acende alertas sobre o impacto nas políticas de saúde, além de levantar questões fundamentais sobre a estrutura moral e legal da sociedade. O que isso significa para o cidadão comum? E para a sociedade como um todo?
Ponto de Partida para um Debate Amplo
A conferência foi inaugurada pelo ginecologista e especialista em câncer de mama Prof. Dr. Uwe Güth, membro da Faculdade de Medicina da Universidade de Basileia e líder de um dos maiores projetos de pesquisa sobre eutanásia na Suíça. Embora recém-chegado ao debate público sobre eutanásia, Güth trouxe uma análise contundente e repleta de provocações.
“Em 10 a 15 anos, é provável que cinco por cento de todas as mortes na Suíça resultem do suicídio assistido,” previu ele, apontando para um possível cenário de 3.600 casos anuais — mais que o dobro dos atuais 1.600, que representam cerca de 2,1% das mortes no país. Para Güth, com esse volume, o risco de abusos é inegável e urgente. “Quem será responsável por impedir esses abusos? Até que ponto a política e a legislação podem permanecer em uma postura passiva?” desafiou ele, dirigindo-se diretamente ao público e provocando murmúrios de apreensão.
Exit e a Defesa da Liberdade de Escolha
Com cerca de 168.000 membros, a Exit se apresenta como a maior organização de apoio ao suicídio assistido na Suíça e, em sua visão, defender a liberdade de escolha sobre a própria vida é fundamental. Durante o evento, os representantes da Exit reforçaram que não deve haver regulamentações adicionais para restringir o direito à eutanásia. Contudo, a proposta de expandir o direito ao suicídio assistido para pessoas saudáveis revelou-se uma questão polêmica, dividindo opiniões dentro da conferência.
A prática da eutanásia é legal na Suíça, mas sua estrutura está em constante revisão, especialmente com o recente advento de tecnologias como a cápsula Sarco, que permite um procedimento totalmente automatizado e independente. Esta inovação reacendeu as discussões sobre o que realmente constitui um processo digno de fim de vida, e até onde a tecnologia deve se envolver nesse momento tão íntimo.
A Caminho de uma Decisão?
O evento em Zurique, além de trazer uma troca de opiniões e perspectivas, evidencia a necessidade de revisão e adaptação das políticas de saúde e das regulamentações que envolvem o suicídio assistido. A conferência gerou um ambiente de questionamento: a sociedade está preparada para essa crescente demanda? Existe um limite para o direito individual, ou este deve ser defendido acima de qualquer regulamentação?
Para muitos presentes, a resposta ainda é incerta. O que ficou claro é que o futuro da eutanásia na Suíça dependerá de um delicado equilíbrio entre ética, direito e a ciência médica. E nesse percurso, todos os envolvidos — do cidadão comum ao legislador — terão um papel a desempenhar.
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